terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

QUEBRANDO AS AMARRAS


Um erro muito comum de observarmos nos novatos do estudo da Fé é o fato de pensarem que tudo está em um “além”, em algum lugar distante e inalcançável.
É o velho e conhecido conceito de transcendência, tanto utilizado nas religiões patrifocais.
     Mas se você deseja realmente conhecer e vivenciar a fé do Povo Sábio precisará soltar-se dessas amarras às quais foi preso, e então, passar a ver a vida e tudo que a cerca de forma diferente, pois quando começar a trilhar o caminho, será conduzido inevitavelmente por Ela a várias mudanças, dentre as quais, uma das mais importantes, é o do olhar. Você irá passar a ver tudo de uma maneira diferente.
     Um carro a soltar fumaça, não estará mais a poluir o ar, e sim, a ferir o pulmão vivo da Deusa.
Uma fogueira não será mais simplesmente pedaços de madeira queimando, e sim, o Fogo Sagrado.
Uma lata de refrigerante jogada no chão, não será mais lixo, e sim, uma ferida no Corpo da Deusa.
O mar não será mais simplesmente local de banho, e sim, o Grande Caldeirão de Cerridwen.
     Assim, seus olhos que antes estavam voltados para o distante e inalcançável “além”, irão voltar-se agora para a Terra.
A partir daí você vai começar a descobrir o valor do conceito da imanência, e que não há nada que não faça parte do grandioso e perfeito Corpo de Deusa.
     Mas se ao voltar seus olhos para a Terra, e lá o fixar, ainda assim não poderá conhecer a totalidade desse conceito, pois o seu sagrado corpo é também o Corpo da Deusa, e sendo assim, necessita que volte seus olhos para ele.
Mas para isso, precisará quebrar ainda outras amarras. As amarras que o castram. Aquelas que ainda não permitem que trabalhe com seu próprio corpo.
     Se não se permitir quebrar essas amarras, será conduzido por Ela ao caminho de volta, pois Ela não permite aqueles que não se reconhecem como Sua manifestação no seu Caminho de Véus.
     Por outro lado, se conseguir, será introduzido no maravilhoso mundo de seu corpo, que como a Mãe Natureza, é gentil e cruel, selvagem e indomável. Descobrirá sentimentos e emoções, pedaços de você que sequer imaginava que existiam, ou, que sabia, mas os trancafiou, conscientemente ou não.
     Você deve compreender que é filho dos Deuses e co-criador do Universo, que é Fogo, Terra, Água e Ar. O Fogo é sua energia, o calor do corpo, a vida que o anima, é o seu poder de inspiração e de criação; a Terra é sua carne, corpo e ossos, são suas certezas e estabilidade; a Água é seu sangue e seus fluidos, suas emoções; o Ar é seu sopro, sua respiração, são suas idéias, ideais e consciência.
     Mas é preciso, além de compreender, aceitar que os elementos que fazem parte de você, trabalham você mesmo. Precisa aceitar que o Fogo queime o que chegou ao fim, para que algo novo possa surgir das cinzas. Precisa aceitar que a Terra por um momento suma abaixo de seus pés, para que os seus antigos pilares desabem, e assim, com o retorno da Terra, novos sejam erguidos e você consiga nova estabilidade. Precisa aceitar que a Água se movimenta com força e com ira, como em um maremoto, para que depois seus mares de emoções se acalmem. Precisa aceitar que o Ar também haja com força, que ele vente impiedoso em sua mente, revirando suas certezas para que dúvidas surjam, para levá-las embora e lhe trazer então novas idéias, e deixar espaço para que sua mente se expanda.
     Somente assim conhecerá parte do maravilhoso caminho da Fé e terá oportunidade de levantar os Véus da Deusa.
     Se for verdadeiro o desejo de seu coração de prestar honras a Nossa Senhora da Noite, desejo-lhe força e coragem para quebrar as amarras que o prendem, pois só assim poderá trilhar o caminho da Fé Antiga.

                   (Adaptado de um  texto de Arvin Dallan)

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